A incerteza em relação ao futuro
político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz com que os
partidos de centro-esquerda, inclusive tradicionais aliados do PT como PC do B
e PDT, já adotem estratégias para a eleição de 2018 com
cenários sem a participação do petista. Se Lula for condenado em
segunda instância e não puder concorrer, os antigos aliados do PT não
parecem dispostos a se unir. A ideia, nesse caso, será investir na disputa
"pulverizada", com muitos candidatos do mesmo espectro político.
Parceiro histórico do PT, o PC do B,
por exemplo, já se prepara para fechar outras composições eleitorais. O receio
do partido é esperar Lula indefinidamente - já que a estratégia do PT consiste
em levar a candidatura do ex-presidente até o último recurso jurídico - e
depois ficar "a ver navios".
"Nós já começamos a fazer
consultas sobre nomes", afirmou o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), que
foi ministro nos governos comandados por Lula e Dilma Rousseff. "Sem Lula na cédula não
tem por que o PC do B apoiar o PT. Na esquerda, vai ser todo mundo igual",
disse o deputado.
O PC do B abriu negociações com o
pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, que nesta semana também conversará com a
direção do PSB. Nada, porém, está fechado. Nos bastidores, tanto integrantes da
oposição como aliados do presidente Michel Temerdizem que muitos lances para 2018
estão congelados, à espera da definição sobre Lula, que lidera as pesquisas de
intenção de voto.
"Mas nós começamos o
degelo", disse Silva, que não exclui a possibilidade de o PC do B lançar
candidato próprio à sucessão de Temer. "O desgaste com a política é tão
grande que os partidos serão chamados a se posicionar. A tendência é de que a
eleição de 2018 seja pulverizada, como a de 1989." Naquele ano, 22
candidatos disputaram o Planalto.
O PDT, outro aliado histórico do PT,
faz os cálculos para 2018 contando que Lula será barrado pela Justiça. "É
mais do que legítimo o PT manter a candidatura de Lula, mas penso que ele não
será candidato", disse o presidente da sigla, Carlos Lupi. O partido
aposta na candidatura de Ciro independentemente de Lula ser candidato.
No entanto, segundo Lupi, caso o
petista fique fora da disputa, Ciro pode crescer nos redutos petistas. "É
pouco provável que o PT venha a nos apoiar, por isso não muda muito para o PDT,
mas, sem Lula, Ciro passa a ter um potencial de crescimento grande no
Nordeste", disse. Com base na avaliação de que o petista será
impedido, o PDT tenta entabular conversas com PC do B, PSB e com o próprio PT a
fim de ampliar o leque de alianças em torno de Ciro.
Aliado do PT no passado, o PSB se
prepara para outros voos. "Precisamos pesar, porém, se a candidatura própria
vai nos ajudar em relação aos palanques estaduais. A hora é de aguardar um
cenário de menos incertezas. Não podemos excluir ninguém antes de falar com as
forças políticas", disse Carlos Siqueira, presidente do PSB.
O socialista disse já ter conversado
com o governador Geraldo Alckmin, que deseja concorrer ao Planalto pelo PSDB. O
vice, Márcio França, é da legenda e, segundo Siqueira, será candidato ao
Bandeirantes em 2018.
Ciro também está na mira do PSB,
tanto que um encontro com ele foi marcado para esta semana. "Além disso, a
direção do PT pediu reunião conosco e ainda vamos falar com a Marina Silva
(Rede)", afirmou Siqueira, para quem o quadro de 2018 se aproxima ao de
1989.
Principal adversário do PT no campo
mais à esquerda, o PSOL desde o primeiro momento trabalha para ter candidatura
própria, sem perspectivas de alianças, mas avalia que, caso Lula não seja
candidato, tem chances de ampliar as alianças atraindo partidos e grupos que
hoje circulam na órbita petista. O nome do PSOL hoje para 2018 é o do deputado
Chico Alencar (RJ), que ainda não definiu se aceita a empreitada.
Sem o petista na disputa, o partido
espera filiar o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme
Boulos, e lançá-lo candidato ao Planalto. Boulos, que já admitiu em entrevistas
a possibilidade de disputar eleições, faz mistério sobre o futuro. Aliados
especulam que, com Lula, Boulos se candidataria a deputado federal.
Para a direção da legenda, a eventual
ausência do petista pode acelerar uma reorganização da esquerda, com a deserção
de setores do PT, ainda para 2018. "Mas é claro que quanto mais tarde
acontecer esta definição mais difícil fica", disse o presidente da
Fundação Lauro Campos, Juliano Medeiros.
Marina
A Rede da ex-ministra Marina Silva, que em 2014 ameaçou a reeleição
de Dilma, diz que a possível ausência de Lula em 2018 não interfere nos planos
do partido. No entanto, aliados de Marina admitem que ela pode herdar votos do
petista. "Não estamos traçando duas estratégias", disse o coordenador
nacional Bazileu Margarido. Para ele, porém, caso Lula seja barrado, o cenário
muda. "Se Lula não for candidato, todo mundo vai se mexer", avaliou
Bazileu.
No PT
Oficialmente o PT diz que a
candidatura do ex-presidente é "irreversível" e
"irrevogável". A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, afirmou
que, mesmo que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) ratifique a
condenação, Lula pode recorrer às instâncias superiores. Na realidade, no
entanto, a percepção de que a Justiça dificilmente permitirá que Lula concorra
pela sexta vez à Presidência é cada vez maior.
Algumas semanas atrás, um colaborador
próximo do ex-presidente chegou a sugerir que, diante da indefinição do
cenário, Lula dedique o restante de 2017 para elaborar um bom programa de
governo e deixe para o ano que vem a definição sobre o candidato.
O "conselheiro" ponderou
outros fatores além do cerco fechado pela Lava Jato, como as incertezas sobre a
reforma política e a judicialização da campanha. Mas, segundo pessoas próximas,
a reação de Lula foi "extremamente negativa".
Na semana passada, em conversa com
deputados estaduais do PT, o advogado Pedro Serrano, referência jurídica da
esquerda, disse que, embora considere Lula inocente, acredita que o Judiciário
sofre forte influência política e, portanto, a probabilidade maior é de que a
condenação seja mantida. Mas também lembrou a possibilidade de recursos.
Fonte: Revista Época
Fonte: Revista Época
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