Dezenove dias após o segundo turno da eleição presidencial de
2014, o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, foi aclamado vencedor por
políticos de diferentes partidos e centenas de pessoas que se espremeram numa
sala de cinema no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, em novembro daquele
ano, para ouvir o tucano falar pela primeira vez, desde a derrota para a
petista Dilma Rousseff.
Aécio dizia sentir-se
vitorioso. Tinha o rosto descansado e mostrava-se animado quando começou a
discursar para a plateia, na frente de uma imagem gigante dele mesmo, que
ocupava toda a tela do cinema. A foto trazia em segundo plano um símbolo
turístico de São Paulo, o estado que se consolidava como o bastião do
antipetismo e onde ele ganhara a eleição. Apesar da vitória dada pelos
paulistas, Aécio perdeu a cadeira do Palácio do Planalto por pouco mais de 3
milhões de votos, na disputa mais acirrada desde a redemocratização do país.
“Na vida, o mais importante não
é a largada. Tampouco a chegada. É a caminhada. A luta continua”, gritou, sob
aplausos, ao citar o conterrâneo Guimarães Rosa. O recém-reeleito governador de
São Paulo, Geraldo Alckmin, que, à época, perdera espaço no partido para o
mineiro, ficou como papagaio de pirata do senador, assim como o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso. Aécio foi ovacionado e teve dificuldade de deixar o
local. Na saída, precisou de seguranças para avançar alguns metros até o carro,
cercado por pessoas que gritavam seu nome e tentavam se aproximar. Apesar
da derrota, ele emanava poder.
Dois anos e meio depois, Aécio tornou-se um cadáver político. A
aura daquele encontro na Paulista foi-se esvaindo, e ele não conseguiu deixar a
“chama acesa”, mencionada durante aquele discurso. Nos meses seguintes, Aécio,
presidente do PSDB, lideraria uma oposição titubeante, que inicialmente teve
receio de apostar no impeachment de Dilma Rousseff, preferindo a cassação da
chapa presidencial no Tribunal Superior Eleitoral. Seu partido impetrou os
processos de cassação Dilma Temer dias depois da derrota e
eles tramitam até hoje – ironicamente, as ações estão agora prestes a ser
julgadas e, em tese, podem cassar também o presidente Michel Temer, apoiado,
agora, pelo próprio Aécio. A avenida Paulista, que o recebeu tão bem em 2014,
vaiou o tucano em 2016. Aécio foi chamado de “bundão” durante as manifestações
pela deposição de Dilma.
Mas foram as delações da Odebrecht, que citavam caixa dois e
propina para Aécio e levaram à abertura de inquéritos pelo Supremo Tribunal
Federal, que complicaram os planos do tucano. Aécio abateu-se e viu sua
intenção de voto nas pesquisas eleitorais derreter. O tiro de misericórdia, no
entanto, veio nesta quarta com a divulgação, pelo jornal O Globo, da delação do empresário
Joesley Batista da JBS, segundo a qual Aécio teria pedido 2 milhões de
reais para, supostamente, pagar um advogado. Nesta quinta, pela manhã, ele foi
afastado do cargo de senador pelo ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo
Tribunal Federal; sua irmã, Andrea Neves, que sempre cuidou dos negócios da
família, foi presa em casa, em Belo Horizonte; e a prisão de Aécio será
definida pelos demais ministros da Corte.
Aécio Neves foi para a lona, e agora os próprios tucanos, focados
na sobrevivência do partido, falam na sua saída da presidência do PSDB, que
oficialmente iria até 2018. Os disparos vêm de São Paulo, justamente o estado
que o acolheu tão bem em 2014. “Chegou a hora de você sair da presidência
nacional do PSDB”, disse nessa quarta o vereador paulistano Mario Covas Neto.
“Precisamos de uma liderança. Estamos como um barco à deriva”, comentou um
líder do partido no Congresso.
Com a derrocada de Aécio, Geraldo Alckmin e o prefeito paulistano
João Doria Jr passam a representar o novo o eixo da disputa pelo Palácio do
Planalto no PSDB. O mineiro ainda tem o controle da cúpula partidária, mas isso
é uma questão de tempo. Nos próximos meses, Aécio estará às voltas com sua
defesa, e o partido começará a se aglutinar em torno de quem representa
perspectiva de poder. Diferentemente de 2014, essa perspectiva não é mais
representada por ele.
Aécio costumava dizer
que “a Presidência da República não é desejo, mas destino”. Aos interlocutores
dava a entender que era ele o predestinado. Não contava com a Lava Jato no meio
do seu caminho. Aécio perdeu a sua vez.
Fonte: Revista Piauí
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