Após uma
década voluntariamente fora de cena, Antônio Carlos Belchior foi-se aos 70 anos
de idade. A notícia chegou ao público durante a manhã de ontem, após Edna
Assunção de Araújo, a companheira do artista, ter ligado para parentes
informando que Belchior foi dormir, mas não acordou. O casal vivia em Santa
Cruz do Sul (RS), a 120km de Porto Alegre, em um exílio voluntário da vida
artística do cantor e compositor. Foi lá que o músico sofreu uma parada
cardíaca, horas após realizar uma pequena apresentação. A informação da morte
do artista foi noticiada nacionalmente em primeira mão pelo O POVO.
O grande legado do
cearense é a obra deixada por ele em 17 discos e um afastamento do mercado e
dos holofotes na última década. “O desaparecimento do Belchior, esse hiato, foi
a conclusão de uma ópera”, define o cineasta Nirton Venâncio, amigo do artista.
Fagner, parceiro de composição de Belchior, relembrou a parceria que tiveram na
canção Mucuripe. “Compor essa música ao lado dele foi mágico. Foi nossa
primeira parceria de outras mais que vieram. Poderiam ser tido mais”, lamenta.
Nascido em
Sobral no dia 26 de outubro de 1946, filho de Dolores Gomes Fontenelle
Fernandes e Otávio Belchior Fernandes, o cantor teve uma infância próxima às
artes e letras. A música surgiu, de início, na família: o avô tocava flauta e
sax, a mãe cantava no coro da igreja e os tios eram “boêmios, que cantavam e
tocavam violão”. Além de parentes, Belchior também atribuía papel importante à
cidade natal — “foi lá que eu vi a arte das igrejas, os mestres, as bandas de
música” — e ao colégio de padres, onde estudava — “a música era uma disciplina
normal no currículo. Essas coisas me encaminharam para o fazer artístico”,
resumiu, em entrevista ao O POVO em agosto de 2007.
Capa da edição 01-05-2017
De Sobral, Belchior mudou-se para Fortaleza no início da década
de 1960. Chegou a estudar Medicina na Universidade Federal do Ceará, mas seguia
mantendo um pé, ou quase os dois, no “fazer artístico”, circulando em eventos
culturais da Capital e trabalhando em um programa musical da TV Ceará.
Foi quando
deixou a Cidade para morar no Sudeste, no entanto, que Belchior passou a ser
reconhecido por sua arte, já nos anos 1970. “Ele fez quatro anos de Medicina e
disse para mim que não era aquilo que queria. O papai pediu muito para ele
terminar, pois faltava só um ano. Ele disse que não, que iria viver de música”,
contou o irmão Nilson Belchior, em entrevista para o especial comemorativo dos
70 anos do cantor, publicado pelo O POVO em outubro passado.
Durante as décadas de 1960 e 1970, Belchior firmou parcerias com
Fagner, Téti, Rodger Rogério, Amelinha, Ednardo, entre outros artistas. O
primeiro LP do cantor foi lançado em 1974, mas foi 1976 que marcou a carreira
de Belchior: foi naquele ano que Elis Regina gravou Velha Roupa Colorida e Como
Nossos Pais, de autoria do cearense, no LP Falso Brilhante, e, mais tarde no
mesmo ano, Belchior lançou Alucinação, disco referencial que o alçou ao sucesso
nacional. Aos dois primeiros trabalhos, somaram-se outros 15. O último disco de
inéditas foi Baihuno (1993). Depois dele o cantor passou a revisitar a própria
discografia, lançando acústicos e releituras. Os último trabalhos de estúdio
lançados foram Auto-Retrato (1999) e As Várias Caras de Drummond (2004), com
melodias de Belchior para poemas do escritor mineiro.
Daí para
frente, Belchior acabou por superar o status de ídolo para virar lenda, mito. O
cantor foi se distanciando do público e da mídia a partir de uma espécie de
autoexílio, descrito como “sumiço” e envolto em polêmicas e boatos. Na
entrevista que deu ao O POVO em 2007, Belchior já
tinha dado pistas do que estava por vir: “Olha, essas fugas de casa foram
constaaaantes (risos). Sempre fui um menino muito levado, inquieto e isso me
levou a fugir várias vezes de casa, mas eu sempre voltei”. (colaborou Camila
Holanda)
Fonte: Jornal O Povo
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