Casarão da fazenda Otacilândia
Seu
Zé Mariano era uma figura atarrancada, sem ser baixo, pescoço grosso, olhar
penetrante. Homem de poucos sorrisos.
Era
o Senhor das Oiticicas. Grande fazenda pras bandas do pé da Serra da Ibiapaba.
Chefe político local, sempre elegia vereador e tinha papel preponderante na
política ipueirense.Seu
filho, Sinhozinho Mariano, vereador por várias legislaturas.
Tinha
como grande inimigo político seu Bilô – José de Holanda Cavalcanti, também
grande proprietário local. Havia entre eles, um ódio mortal, motivada por ter
seu Zé Mariano prendido seu Bilô em uma prisão improvisada em sua fazenda.
Ambos,
muito amigos do papai. Seu Bilô possuía um posto de bicicleta (coisa antiga e
boa). Todas as férias em que eu ia para Ipueiras, a me esperar lá estava uma
bicicleta gentilmente cedida por ele para uso até a minha volta às aulas, em Fortaleza. Fiz
grandes passeios e loucuras. Quem como eu, não descia o alto da estação de mãos
soltas, atravessava a ponte e ia, assim, a rua das Flores? Quem não apostou corrida da cadeia até o rio?
Mas
seu Zé Mariano também era um grande “botador de apelidos”.
Seu
Bilô, seu inimigo era o ferrabrás; Seu Juarez Catunda, coletor estadual, Peru (vermelhão);
Seu Camaral, pai da Darci, Gogó de sola (por ter o couro do pescoço grosso);
Seu Tim Mourão, prefeito, Zé Bracim; Seu Zeca Bento, por estar sempre de bem
com o poder, Pilatos; Wencery, por ter o rosto manchado, Lavrado. Há muitos
outros, mas, no momento, não consigo lembrar dos nomes. Pode ser que alguém
tenha mais memória que eu.
Casa do Seu Pedro Martins Aragão
O
lauto banquete
Ainda
sobre o Seu Zé Mariano lembrei-me de um acontecido, contado por meu pai. Anos
40. Candidatos a Governador do Estado: Faustino de Albuquerque e General Onofre.
Seu Pedro Aragão, chefe do PTB local, apoiava o futuro Governador Faustino de
Albuquerque. Em campanha, a caravana do Dr. Faustino iria passar por Ipueiras,
com o candidato à frente. Seu Pedro Aragão programou um lauto banquete em sua
homenagem e convidou as pessoas proeminentes da sociedade ipueirense,
inclusive, claro o Coronel José Mariano Melo.
Sentados
a mesa, em dado momento do almoço, o Seu Zé Mariano, depois de empanturra-se de
peru e outras guloseimas típicas da época, não contou pipocas: abaixou o rosto
e vapt vupt, passou a toalha bordada branca da mesa na boca. Ante o olhar reprovador
de Dona Dolores, tascou, olhando para o governador, que a tudo assistia:
- Desculpe, eminência. Não é falta de educação. É falta de guardanapo.
Acabou
com a dona da casa.
Walmir Rosa é advogado
0 comentários:
As opiniões expressas aqui não reflete a opinião do Blog Primeira Coluna.