Parte dos jornalistas passou dias dizendo o que quis
sobre a vinda dos médicos cubanos, sem se preocupar em checar
informações ou as consequências de suas ações.
São escravos, vêm
em aviões negreiros, são incompetentes, indolentes e teve até quem disse
que as médicas pareciam “empregadas domésticas” (o fantástico é que a
tosca em questão achou que estava ofendendo as doutoras mas, no fundo,
rasgava preconceito contra uma suposta aparência de trabalhadoras
domésticas).
Muito jornalista também deu voz de forma passiva e
servil ao corporativismo médico desmiolado, ou seja, ouviu e transmitiu
aberrações sem questionar. Que é a função primordial dele.
Isso
alimentou um bando de filhos das classes média e alta, com formação
política zero, conhecimento histórico inexistente, pouco senso crítico e
zero de autocrítica. Que depois de bem “fundamentados”, levaram seus
jalecos brancos para a porta de aeroportos a fim de repetirem o que
ouviram.
Em suma, todo e toda jornalista que ajudou a inflar o
monstro da xenofobia e do preconceito neste caso ou ao longo dos anos ou
se omitiu diante disso tem uma parcela de culpa nesse show de horrores e
de vergonha alheia.
Não somos nós que vamos a público tentar
agredir estrangeiros. Da mesma forma que não é a mão de pastores ou
deputados que seguram a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente que
atacam homossexuais. Mas somos nós que, muitas vezes, na busca por
audiência ou para encaixar um fato em nossa visão de mundo, tornamos a
agressão banal, quase uma necessidade para restabelecer a ordem das
coisas.
Parabéns colegas, a gente é o máximo.
Publicado originalmente no Blog do Sakamoto
Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu
conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste,
Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador
da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a
Erradicação do Trabalho Escravo.
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